Forragear alimentos pode ajudar a nos conectar?

 

Forragear e permanecer conectado à natureza pode nos ajudar a melhorar nosso bem-estar físico e mental. Rhys Delany juntou-se a um dos muitos passeios de forrageamento oferecidos ao redor do Southside para descobrir mais.

Palavras por Rhys Delaney | Ilustrações de Sasha Delmage | Traduzido por Juliana Da Penha

Viver em uma cidade agitada como Glasgow pode fazer sentir desconectados com a natureza, o que pode trazer um impacto negativo no nosso ânimo. A Mental Health Foundation demonstrou como a nossa conexão com a natureza pode nos trazer um forte senso de felicidade. 

Nos últimos anos, o NHS também reconheceu os benefícios de estar ao ar livre para a nossa saúde mental. A ideia da Prescrição social é fazer com que as pessoas sejam mais ativas em suas vidas sem depender de antidepressantes. Nesses esquemas, os médicos prescrevem atividades ao ar livre como caminhadas em grupos e jardinagem como uma forma de melhorar a nossa vida social e forma física e, consequentemente a nossa saúde. 

Mas isso vai além de apenas ar fresco e exercícios; tão importante para a nossa reconexão e ouvir os pássaros, tocar o casco das arvores, cheirar as flores, e forragear, uma atividade que cresceu em popularidade nos últimos anos.

Depois da pandemia de Covid-19, as pessoas que vivem em casas sem jardim reconheceram o valor inestimável de espaços verdes urbanos como parques, jardins públicos e beira de rios. O ato de procurar comida na natureza explora realmente os nossos instintos. Olhando, ouvindo, cheirando e experimentando as plantas locais pode nos beneficiar de muitas maneiras. Vendo muitas pessoas organizando caminhadas de forrageio, eu decidi experimentar.

Jemima Hall é uma artista e professora de habilidades ancestrais. Eu me juntei a ela numa caminhada onde ela falou sobre a importância da primavera, como uma época em que tanto os nossos corpos como a natureza despertam do inverno. Arvores e flores começam a florescer, assim como as verduras vitais que nossos ancestrais teriam comido.

Ela nos mostrou onde encontrar mostarda de alho e sabugueiro, plantas que crescem em abundância no Queens Park e são facilmente identificáveis por seus espinhos e veias. Ela explicou quantas dessas plantas e arvores podem ter propriedades medicinais, como o espinheiro que alivia a ansiedade e a urtiga rica em vitaminas e mineirais

Jemima falou sobre a importância das folhas e casca da bétula, quando transformada em cha, pode limpar a congestão sinusal, reduzir a inflamação e aliviar a dor de cabeça. Da mesma forma, a seiva, que e rica em magnésio,  potássio e cálcio, pode limpar o nosso fígado, promover uma pele mais saudável e melhorar o nosso bem-estar.

"Acho que quando estamos ao ar livre, cercados de verde e com o som dos pássaros, isso nos conecta a algo primitivo dentro de nós, que acalma a nossa mente", disse Jemima. “Existem muitos estudos sobre isso e sobre tirar os sapatos e colocar os pés no solo - o bem que faz estar ligado a terra e se enraizar, em um nível atômico".

Jemima presenciou conexões que se estabeleceram durante o tempo em que conduziu caminhadas locais.

"É uma mistura de pessoas, de diferentes idades, homens e mulheres, às vezes crianças participam, às vezes cães participam e ver as pessoas se conectarem e conversarem nos momentos intermediários é maravilhoso." 

Assim como Jemima, Catriona Gibson, uma médica fitoterapeuta, também realiza caminhadas de coleta de alimentos na região Sul. Tendo trabalhado com pessoas que sofrem de doenças mentais e outros problemas de longo prazo, como falta de moradia e dependência química, conversamos sobre o que ela considera serem os benefícios para a saúde mental o ato de estar ao ar livre.

"Eu acho que marcar e estar ciente das estações do ano, ajuda muito a se fundamentar. Em um mundo em que pode ser muito difícil sentir isso em si mesmo, esse é um elemento bastante positivo em termos de saúde mental."

A Health Scotland relata que as áreas com altos índices de pobreza, moradia precária, conflito familiar, desemprego, adversidade na infância e problemas crônicos de saúde são as que têm maior probabilidade de apresentar problemas de saúde mental. Ter o Queens Park na porta de Govanhill significa que a coleta de alimentos é uma atividade ao alcance de todos.

No entanto, é importante fazer isso apenas com conhecimento e certeza. As caminhadas de Catriona se concentram mais na identificação do que na colheita de plantas. Isso se deve aos erros que um iniciante pode cometer. Ela alerta, por exemplo, sobre a cicuta venenosa, que é comum no Reino Unido e pertence à mesma família de plantas que a cenoura, o aipo e a salsa, mas pode ser mortal.

Perguntei a Catriona se devemos à natureza um pouco mais de respeito nesse sentido. "Acho que sim, e acho que as pessoas também podem ter reações às coisas e, às vezes, alguém é muito sensível e come algo que não é adequado para si. A coleta de alimentos deve ser feita com intenção e sustentabilidade. Você precisa de um livro de identificação muito bom. E é como qualquer outro bom hábito que você adquire, você quer fazê-lo o mínimo e com a maior frequência possível e aprender as coisas lentamente."


Mind the Health Gap é uma colaboração de um ano entre Greater Govanhill e The Ferret explorando as soluções para as desigualdades na saúde. Este projeto foi financiado pelo European Journalism Centre, através do Solutions Journalism Accelerator. Este fundo é apoiado pela Fundação Bill & Melinda Gates. Leia mais aqui.

 
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